Resenha: Eu Estou Pensando em Acabar com Tudo

Atenção: Essa resenha contém spoilers.

Sinopse do Livro

"Jake e eu temos uma verdadeira conexão, uma ligação rara e intensa. Quanto tempo faz... um mês? Eu me sinto atraída por ele. Mesmo que ele não seja o meu tipo. E eu estou indo visitar os pais dele pela primeira vez, ao mesmo tempo que estou pensando em acabar com tudo. Jake disse uma vez 'Às vezes um pensamento está mais próximo da verdade, da realidade, do que uma ação. Você pode dizer qualquer coisa, você pode fazer o que quiser, mas você não finge um pensamento'. Então, aqui está o que eu estou pensando: eu não quero estar aqui".


Entrando em paranóia

A narradora quer acabar com tudo e não é uma depressão seguida de suicídio, como parece ser o título do livro. Em um relacionamento recente com Jake, ela se sente um pouco insegura em relação ao novo namorado, por quem se sente muito atraída, mas que são diferentes. A caminho de conhecer os pais de Jake, que moram em uma fazenda, ela entra em um universo de pensamentos sobre como aquele relacionamento não daria certo e que ela não deveria estar ali. No fundo, ela não consegue terminar o relacionamento. Jake - um exímio químico e muito inteligente -, por outro lado, quer apresnetá-la aos seus pais muito cedo, embora não seja uma pessoa de demonstrar seus sentimentos e ter uma visão muito racional da vida. Durante várias conversas dentro do carro, a narradora recebe ligações e mensagens de um desconhecido que, no qual, o chama de O Chamado. Uma pessoa que a perturba a viagem toda, não diz nada ao namorado sobre a existência dela e evita atender os telefonemas. Não é uma pessoa que a ameaça, mas que envia mensagens mistas, como se a conhecesse e quisesse manter uma conversa. Dentre essa narrativa, há várias outras histórias de sua vida e como Jake e ela se conheceram.

Mas que tipo de paranóia?

A narradora não tem seu nome revelado na história. Ela é apenas quem está a contando com uma perspectiva de tudo o que acontece ao seu redor - de uma forma bem paranóica. Ela é descrita (de forma bem sutil e no subtexto) como uma pessoa extremamente insegura e paranóica. O medo toma conta dela o tempo todo e nos faz acreditar que todos os detalhes é contra ela, ou seja, nada nem ninguém é normal, incluindo Jake, embora ela tenha uma leve intimidade de compreensão com ele.
 O livro passa-se (quase) a caminho da fazenda, dentro do carro. Dá pra imaginar que seja uma viagem bem cansativa, onde assuntos não se desenvolvem de verdade, para alguém que está em um relacionamento há um mês. Há muita conversa jogada fora, mas só isso. Eles não tentam se conhecer mais ou aparentam estar apaixonados. É como se fossem um casal que já estivesse juntos há bastante tempo. Jake é um rapaz muito racional. Em momento algum ele entra em sintonia com os sentimentos dele nem demonstra muita emoção. A namorada também age da mesma forma, mas como a história é contada por ela, ficamos sabendo o que ela sente e o que pensa em relação a tudo. Ela divide muito a sua frustração de Jake ser assim, pois não dá pra saber a verdadeira personalidade dele debaixo de uma pessoa muito empenhada nos estudos e no trabalho.
 A admiração por Jake é grande, mas não o suficiente para que ela realmente queira continuar com ele. E com razão, pois não há esforço algum para que eles pareçam um casal. A narradora, ainda sim, acredita que eles têm uma sintonia muito forte (talvez pela forma de serem mais frios em relação ao outro). O relacionamento não passa de uma coisa estranha e chata.
 Conforme a história vai se desenvolvendo, O Chamado desaparece de cena. A verdade é que não existe uma ameaça real na história mas, na mente dela, tudo é uma ameaça: o relacionamento, os pais de Jake, a estrada, o estranho que liga, etc. Embora o livro tenha sido escrito por um canadense, me lembrou muito o comportamento americano de desconfiarem de tudo e de todos. Cheguei a acreditar, no fim, que ela tivesse uma esquizofrenia. Talvez, o mundo não é o que ela realmente conta - afinal de contas, é um diário.
 Durante as páginas, temos pequenos diálogos de algo que está por vir no final. Uma tragédia? Duas pessoas mortas? Uma? Mais alguém?
 Entre paranóias, esquizofrenia e um possível Transtorno Dissociativo, a narradora "entra" no corpo de Jake, o que me faz ter várias explicações para o que ocorreu ali:

  1. A relação entre Jake e a narradora é de um passado distante. "Isso foi há muito tempo. Anos. Foi inconsequente para ela e para todos. Exceto para nós". Não foi algo que estava acontecendo, exceto o seu retorno para a escola, pois ela sabia que Jake estaria ali. A narradora era parecida com ele, pois tinham personalidades que não "cabiam" nesse mundo.
  2. Jake e a narradora são a mesma pessoa. Ele não era uma pessoa comum. Sofria com sua fobia social e em ser antisocial. Pessoas que se isolam mais do que o normal têm uma tendência de imaginar coisas, criar coisa e acreditarem que são outra pessoa. Podem ser vistas como criativas ou, para psiquiatras, pessoas que entraram tanto em sua bolha que acabam por desenvolver uma loucura. Por fim, acabou por ser um suicídio. Os pais de Jake morreram, ele estava sozinho no mundo. A criação de uma namorada ou alguém que o apoiasse era fruto de uma solidão, embora ele soubesse que ele não era a melhor companhia. A história era: a namorada imaginária terminar com ele - por conta da personalidade dele - e também por conta do fim que ele daria a vida dele. Era como um adeus.
Por fim, é um livro que tenho que ler novamente e prestar mais atenção nos detalhes. A história pareceu uma "encheção de linguiça" mas, talvez, são detalhes necessários para compreender o fim. O Iain Reid é muito original e segue uma linha muito diferente de outras histórias, embora ele tenha se baseado em Alfred Hitchcock. 

Charlie Kaufman e uma possível adaptação no Netflix


Foi noticiado que o diretor Charlie Kaufman (Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrançãs, Eu Sou John Malkovich) irá fazer uma adaptação para o Netflix. É uma história que é bem a cara de Kaufman, porém, vejamos se o livro é adaptável.

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