Os Homens Explicam Tudo Para Mim - Resenha



Atenção: Essa resenha contém spoilers.

Essa é uma resenha um pouco complicada, que tenho pensado desde que terminei a leitura no mês passado. É tipo de um livro que você lê um título, acha que vai se tratar somente dele, mas ele envolve mais situações que um assunto apenas. É um assunto, somente, com diversos temas. Quando eu terminei a leitura, minha cabeça parecia que iria explodir com tantas informações. Cheguei a parar de ler por um tempo, porque ainda estava tentando "mastigar" o quer li no capítulo anterior.

 Cada capítulo tem uma temática não-linear diferente. Eles evolvem a década de 1970, a vida de Eva e acontecimentos recentes da década de 2010. Você pode até achar que vai ter tempo de pensar o que você acabou de ler em outro capítulo enquanto continua a leitura. Não vai. É o primeiro ensaio mais completo e mais simples sobre o feminismo e a história da mulher na humanidade.

Rebecca Solnit


Solnit começa o livro da mesma forma que o título indica: um homem explicando. Em 2003, ela publicou um livro. Ao ir à uma festa com sua amiga Sallie, o anfitrião da casa as convida para uma conversa informal, que envolve a profissão de Rebecca. Como diz a própria autora, o Sr. Muito Importante pergunta sobre o livro que ela havia acabado de lançar.

"[...] Então! Ouvi dizer que você já escreveu dois livros?'
            Respondi: 'Sim, escrevi vários, na verdade'.
            [...] ' Ah, e eles são sobre o que?' [...] comecei a falar apenas sobre o mais recente, naquele dia de verão de 2003: River of Shadows, Eadweard Muybridge and the Technological Wild West [...] Ele me cortou assim que eu mencionei Muybridge. "E você ouviu falar naquele livro muito importante sobre Muybrigde que saiu este ano?"


 O homem explicou todo o livro (de Rebecca) e só parou ao ser interrompido por Sallie. Três vezes. "Esse é o livro dela". A verdade é que o Sr. Muito Importante não havia nem lido seu livro, mas uma resenha do New York Times. Deste ensaio, saiu a expressão mansplaining, quando um homem sente que tem o dever de explicar tudo para as mulheres que, aparentemente, não sabem de nada. Inclusive sobre seu próprio livro.

Quem tem o direito de matar você? 


 Como já havia dito anteriormente, os temas são diversos (inclusive, se você se lembrar de todos eles após a leitura... Ufa!). Existem vertentes dentro do feminismo que - embora não sejam uma mais importante que a outra- gosto mais de estudar. E uma delas é a violência contra a mulher. Aquela mesma coisa que, infelizmente, vemos nos noticiários, muito mais frequente em países subdesenvolvidos, mas não isento em países desenvolvidos. Eu me interesso mais, pois é o que me
comove mais. E, por mais que eu leia sobre como a violência se amplia pelo mundo, nunca ficarei sabendo de tudo. Nós nunca saberemos de tudo. Um desses casos foi do poderoso economista francês Dominique Strauss-Kahn, diretor da FMI (Fundo Monetário Internacional), que abusou sexualmente uma camareira nos Estados Unidos. Strauss-Kahn foi derrubado de um dos cargos mais poderosos do mundo: por uma camareira. Houve confissão e sêmen encontrado na gola dela, mas há que acredite que essa história seja estranha demais para se acreditar. Aliás, qualquer estupro ou assédio contra as mulheres é difícil de acreditar, seja ele o caso que derrubou Dominque ou os estupros coletivos ocorridos na Índia, como é falado no livro. Mais fácil acreditar quando um homem afirma que não fez isso.
 O livro é fala sobre tudo um pouco, mas ele sempre se volta para o mansplaining de alguma forma. Ele está no formato de uma mulher denunciar um assédio, um comentário indesejado na internet ou pessoalmente, em alguma conquista que é direcionada aos homens ou não direcionada a eles, mas só por ser uma conquista feminina já incomoda. Está na crença de que não se pode confiar em mulheres, pois elas são vitimistas, exageradas, histéricas, louca - inclusive, é uma arte masculina muito comum e de talento: fazer as mulheres parecerem loucas.
 Como diz Solnit, "isso vem desde Eva". Esse livro é um peso de culpa que deixa um rastro de sentimentos negativos, que faz você sentir raiva, achar diversas situações patéticas e descobrir opiniões, como as de Rebecca que você nunca imaginaria que tivesse tanto senso. É como uma caixinha de todas as coisas ruins e todos os fatos desagradáveis de ser uma mulher na sociedade, onde o ciclo é nascer, ser educada para ser mais submissa e obediente que os garotos, aceitar que os homens são mais imaturos que as mulheres (porquê é, basicamente, "impossível" que o homem tenha uma postura adulta) e que eles são assediadores, viver com medo de que coisas podem lhe acontecer e morrer. Isso se não morrer estrangulada, estuprada e silenciada.
 O dia de amanhã é uma surpresa muito estranha para o sexo feminino. Me sinto muito feliz, pois vejo as feministas "problematizarem" mais coisas que não podem continuar como estão. Ao mesmo tempo que não sei se todas as coisas mencionadas por Rebecca tenham alguma solução. Fim do machismo e da misoginia existe? Entristece ver uma mulher calada e menosprezada, violentada e ter a culpa atribuída a ela totalmente? Será que tudo isso muda algum dia?


Fontes: Biografia de Rebecca Solnit - http://rebeccasolnit.net/biography
Fotografia de Solnit: https://longreads.com/2016/12/22/we-have-to-resist-rebecca-solnit/

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